sábado, 31 de janeiro de 2009

Património Santarense

Só imagens


































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sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Tesourinhos

Com o mês de Janeiro a findar, escoa-se também o tempo que resolvemos dedicar ao Santarense e à associação que lhe deu origem, em jeito de até já e prometendo voltar a esta saudosa fonte deixamos alguns olhares, cientes que irão dar prazer aos muitos que ainda se lembram


Pérolas da Literatura


Santar sempre na vanguarda 1996


Altas vedetas by Celso Gaudêncio - Trio Odemira 1995


Uma verdadeira chuva de estrelas


Activismo Ambiental 1994


Tempos de Crise


O enorme coração solidário dos Santarenses

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Mulheres de Santar

Bem sei! Prometi escrever sobre um outro tema, que não aquele por onde me vou perder agora.
Com certeza o farei! Não sei como, nem quando, mas cumprirei a promessa que fiz aos autores do Indigente! Será quando a inspiração aparecer, o permitir.
Mas eu não poderia iniciar-me neste projecto que já acalento, sem começar por aquelas pessoas e ou momentos que me fizeram apaixonar pela Vila de Santar e que são, em boa verdade, os responsáveis por hoje estar aqui também.
Sendo a única mulher, para já, neste espaço, também não podia limitar-me a ser só mais um número. Entendam que, tinha que pelo menos começar com algo mais femenino, mais do meu eu, um ar de graça, se preferirem.
E a começar por algum tema, que me leve a investir um pouco de mim em Santar, só o poderia fazer, falando da minha Avó Hortênsia e de um episódio que me aconteceu há pouco tempo. São estes momentos, estas pessoas que hoje fazem de mim uma voluntária por esta causa:o Indigente.



A Mafalda, amiga de há muitos anos, está de visita a Lisboa. Ela é assistente social e anda sempre de um lado para o outro com famílias ciganas e/ou de circo. É uma saltimbanca. :-)
Sempre que vem a Lisboa, é costume encontrarmo-nos para jantar e pôr as novidades em dia. Desta vez não foi diferente.
Combinei ir buscá-la ao circo, onde vive a família com quem está a trabalhar de momento e levá-la ao restaurante onde estariam outras duas amigas à nossa espera.
Como eu, e quem me conhece sabe que é verdade, perco-me em todo lado com muita facilidade, resolvi levar a Sílvia comigo.
Chegamos, já no fim do espectáculo e tal como combinado, fomos procurá-la nos “bastidores" (não sei se no circo é assim que se chama).

Revê-la é sempre uma alegria, uma festa.

- Titá, dá-me só um minuto. Tenho que me despedir de algumas pessoas e já venho.

Reparei que existia uma cumplicidade enorme entre ela e o Homem com quem falava, e eu, que não resisto a estas coisas, disse-lhe:

- Oh Mafaldinha, se quiseres podes trazer o teu amigo.
- Achas que sim? Então espera um minuto.

Foi falar com ele e trouxe-o até nós.

- Jaime, estas são duas amigas minhas de há muitos, muitos anos: a Titá e a Sílvia.

O Jaime, que pelos vistos já sabia do convite disse:
- Obrigado pelo convite. Adoraria ir, mas tenho que me deitar cedo porque amanhã tenho que apanhar um comboio para Nelas às 7h00 da manhã.
- Para Nelas? Mas isso é a minha terra! Respondi com a alegria típica do Português que encontra um conterrâneo.
- Para ser exacto, o comboio vai até Nelas, mas eu vou mesmo para Santar.
A Sílvia deu um gritinho e disse:
- Mas Santar é que é mesmo a terra da Titá. Eu também já lá estive. Vai adorar! É uma vila muito agradável.
Ele virou-se para mim e disse:
- Aí é!?! Também é a minha Terra!
- Sim?!? Perguntei incrédula. Santar é uma Vila pequena. Conheço toda a gente….
- Então, talvez me possa ajudar! Vou procurar uma Senhora a quem devo a minha vida!
Os meus pais são ciganos, como já deve ter reparado, e há 38 anos atrás viviam com muita dificuldade. Tinham um pequeno circo que andava de aldeia em aldeia.
Chegaram a Santar em Novembro e minha Mãe estava grávida de mim. Por um qualquer esforço entrou em trabalho de parto antes do tempo e começou a parir no acampamento onde estavam, num largo, em frente a uma igreja.
Um Senhor que vinha de velar um amigo, reparou no que estava a acontecer e comentou que estava muito frio para ela estar ali, que deviam procurar quem os recebesse e ajudasse....Mas quem recebia ciganos? Não recebem agora, quanto mais há 38 anos atrás e numa vila conservadora.
Ao que parece o Senhor chegou a casa e comentou a cena com a esposa.
Essa Senhora saiu a correr de casa e foi ter com minha Mãe. Levou-a para a casa dela e ajudou-a no parto, chamando o médico da terra. Ao que parece, era costume esta Senhora fazer isto. Recebia pessoas necessitadas em sua casa e ajudava toda a gente.
E lá nasci eu! Eu estava bem, mas a minha Mãe teve algumas complicações e essa Senhora deu guarida a meus pais durante um mês inteirinho. Ficámos junto a um forno da casa dessa Senhora onde todos iam cozer a broa. Alimentou-nos e aqueceu-nos sem fazer qualquer distinção entre nós e a restante família. Inclusive tratou de meu baptizado.
Neste momento, já eu tremia. Sentia-me tonta. Quase vizualizava o que ele contava.Reconhecia este tipo de atitudes. Esta história era me familiar. Cresci e vivi no meio de inúmeras histórias destas.
Desejei que se calasse por um momento, para que eu acalmasse a saudade que já amargava na boca, mas o Jaime continuava entusiasmado e as palavras dele ecoavam alto e a bom som...por segundos deixei de ouvir a descrição exaustiva que fazia do seu próprio batizado, apesar que, de quando em vez, reconhecia algo, alguma coisa....e ele continuava:
- Toda a vida, a minha Mãe falou desta história e me fez ver a divida que tinha para com esta Senhora. Agora que minha Mãe morreu, acredito que devo procurar estas raízes.
Para mim, basta-me ver a casa onde nasci e talvez encontrar alguém da família dessa Senhora.
- Talvez a Titá conheça. Chama-se Hortênsia Sampaio.

O Jaime olhou para mim e ficou estarrecido.
- Então? Sente-se bem?

Tanto a Mafaldinha, como a Sílvia tinham os braços sobre os meus ombros e seguravam as minhas mãos que tremiam. As lágrimas corriam pela minha cara, ao mesmo tempo que esboçava o maior sorriso de que me lembro.

- Meninas que é isso?Então, sei que é uma história comovente, mas não é caso para ficarem assim. Desculpem, mas….

- Jaime! Essa Senhora é a minha Avó….. A minha Avó Hortênsia…respondi comovida.

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quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Momento Alto




O momento alto dos "Amigos de Santar" tomou forma com a organização do 1ºConcurso de Saltos de Cavalo de Santar em Agosto de 1994.O grupo de jovens que há mais de uma dúzia de anos teve a ousadia de organizar um certame com a dimensão daquele concurso, mesmo lutando com algumas dificuldades, soube honrar o nome da nossa terra. Agora passado todo este tempo, talvez devam, esses mesmos jovens, assumir a responsabilidade de fazer renascer do amorfismo, esta associação. Santar mantêm em aberto o espaço deixado vago pelo desaparecimento prematuro dos "Amigos de Santar".A poeira do esquecimento a que o último director a devotou, não foi o suficiente para a fazer esquecer, a quem realmente, gostou dela.
Lança-se pois hoje aqui o repto para que a associação seja de novo entregue aos Santarenses que dela queiram cuidar, principalmente nas suas vertentes, cultural e recreativa e porque os Santarenses não viram a cara à luta.
Deixo um escrito de um dos mais ilustres da nossa terra, e que o Indigente preza, no mesmo jornal e que quinze anos depois continua actual...
Ao autor as nossas devidas homenagens.

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quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Santarense, passado, presente,...

Vivemos tempos em que temos o mundo inteiro à distancia de um click. Hoje, com as novas tecnologias, o mundo tornou-se uma aldeia global.
A informação chega-nos num ápice, a qualquer hora, a qualquer momento em qualquer lado.
Longe vão os tempos, portanto, em que a informação nos chegava de uma forma completamente diferente, tanto na sua velocidade como no seu formato.

Informar, emitir opinião, discutir ideias, é proprio da nossa sociedade, da de ontem, da de hoje e seguramente da de amanhã!
Numa sociedade onde não se promove a discussão de ideias, de opiniões e de pontos de vista, onde a verdade é uma e só uma prevalece, corre-se o risco de hipotecar o crescimento e o desenvolvimento dessa mesma sociedade!

Pensamos que foi com esse espirito e a pensar nisso, que um grupo de Santarenses, jovens e sonhadores, com uma vontade enorme que a sua terra cresce-se e ao mesmo tempo se desenvolve-se, criou uma Associação que fosse de encontro a estes principios e preenche-se uma lacuna visivel na sociedade Santarense da altura. Nasceu então " O Santarense", face mais visivel da Associação Cutural e Informativa " Os Amigos de Santar".

A Associação viveu tempos de crescimento e dinamismo até então pouco vistos em Santar, com a realização de vários eventos que ainda hoje nos ficam na retina e nos deixa imensas saudades.

Durante bastante tempo, o jornal da Associação, promoveu a discussão, a diversidade de opiniões e informou tantos e tantos conterraneos espalhados pelo mundo fora, fez História e ele mesmo se tornou História.

No entanto e por variadissimas razões, como a saida de algumas pessoas de Santar, o desinteresse de outros e o interesse de outros que só por próprios interesses, tinham interesse em tudo o que pudesse ser interessante, a Associação caiu num vazio directivo que a fez estar inactiva durante algum tempo.

Depois de um periodo de crescimento e afirmação, a Associação estava adormecida, e alguns dos que restavam com o mesmo espirito de quem a fundou, e que acreditavam que poderia ser dada alguma continuidade ao sonho, esforçaram-se por no sentido de a fazer renascer.

Mas parece que o destino estava traçado, aquilo que uma geração inovadora, empreendedora e de principios criara, outra de de principios mais duvidosos, tratou de matar.

Não vamos fazer muitos mais comentários em relação a esse periodo e às ultimas eleições da Associação, porque devem ser motivo de vergonha para alguns e ficam, para o Indigente, como o sepultar definitivo da democracia associativa em Santar. Não fosse a seriedade e verticalidade do então Presidente da Assembleia Geral da Associação e a história talvez tivesse sido outra!

Acreditamos que não se justifique assim tanto, hoje, um jornal em Santar, pelo menos nos moldes do velho " Santarense", mas o que é notório, é a lacuna que existe na area cultural e recreativa em Santar, e essa poderia e deveria ser preenchida pela Associação Informativa e Cultural " OS Amigos de Santar", no entanto perguntamos, aos fundadores, aos coveiros, aos Santarenses em geral, aos amigos e aos inimigos, valeria a pena?

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sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

O Santarense







Ano I
Nº 3 de Julho de 1992

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Autores

Para que não existam duvidas, e para que neste espaço não existam qualquer tipo de tabus, iremos revelar os criadores deste espaço que não é nosso, é de todos os que quiserem participar, da forma que melhor o entenderam fazer e em especial dos Santarenses.

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Santar... Pela noite...


Um olhar sobre a lua


Casa de Santar


Misericórdia de Santar

Fotos: PMA

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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Esta é para ti, não?


Um texto de um grande ícone e revolucionário do nosso panorama nacional!

Enquadra-se perfeitamente naquilo que alguns Santarenses são, ou ousam ser!

Aqui fica:

Vou, vou-vos mostrar mais um pedaço da minha vida, um pedaço um pouco especial, trata-se de um texto que foi escrito, assim, de um só jorro, numa noite de Fevereiro de 79, e que talvez tenha um ou outro pormenor que já não é muito actual. Eu vou-vos dar o texto tal e qual como eu o escrevi nessa altura, sem ter modificado nada, por isso vos peço que não se deixem distrair por esses pormenores que possam ser já não muito actuais e que isso não contribua para desviar a vossa atenção do que me parece ser o essencial neste texto.
Chama-se FMI.
Quer dizer: Fundo Monetário Internacional.
Não sei porque é que se riem, é uma organização democrática dos países todos, que se reúnem, como as pessoas, em torno de uma mesa para discutir os seus assuntos, e no fim tomar as decisões que interessam a todos...
É o internacionalismo monetário!

FMI

Cachucho não é coisa que me traga a mim
Mais novidade do que lagostim
Nariz que reconhece o cheiro do pilim
Distingue bem o Mortimor do Meirim
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Há tanto nesta terra que ainda está por fazer
Entrar por aí a dentro, analisar, e então
Do meu 'attaché-case' sai a solução!

FMI Não há graça que não faça o FMI
FMI O bombástico de plástico para si
FMI Não há força que retorça o FMI

Discreto e ordenado mas nem por isso fraco
Eis a imagem 'on the rocks' do cancro do tabaco
Enfio uma gravata em cada fato-macaco
E meto o pessoal todo no mesmo saco
A produtividade, ora aí está, quer dizer
Não ando aqui a brincar, não há tempo a perder
Batendo o pé na casa, espanador na mão
É só desinfectar em superprodução!

FMI Não há truque que não lucre ao FMI
FMI O heróico paranóico hara-kiri
FMI Panegírico, pro-lírico daqui

Palavras, palavras, palavras e não só
Palavras para si e palavras para dó
A contas com o nada que swingar o sol-e-dó
Depois a criadagem lava o pé e limpa o pó
A produtividade, ora nem mais, célulazinhas cinzentas
Sempre atentas
E levas pela tromba se não te pões a pau
Num encontrão imediato do 3º grau!

FMI Não há lenha que detenha o FMI
FMI Não há ronha que envergonhe o FMI
FMI ...

Entretém-te filho, entretém-te, não desfolhes em vão este malmequer que bem-te-quer, mal-te-quer, vem-te-quer, ovomalt'e-quer, messe gigantesca, vem-te vindo, VIM na cozinha, VIM na casa-de-banho, VIM no Politeama, VIM no Águia D'ouro, VIM em toda a parte, vem-te filho, vem-te comer ao olho, vem-te comer à mão, olha os pombinhos pneumáticos que te arrulham por esses cartazes fora, olha a Música no Coração da Indira Gandi, olha o Moshe Dayan que te traz debaixo d'olho, o respeitinho é muito lindo e nós somos um povo de respeito, né filho? Nós somos um povo de respeitinho muito lindo, saímos à rua de cravo na mão sem dar conta de que saímos à rua de cravo na mão a horas certas, né filho? Consolida filho, consolida, enfia-te a horas certas no casarão da Gabriela que o malmequer vai-te tratando do serviço nacional de saúde. Consolida filho, consolida, que o trabalhinho é muito lindo, o teu trabalhinho é muito lindo, é o mais lindo de todos, como o Astro, não é filho? O cabrão do Astro entra-te pela porta das traseiras, tu tens um gozo do caraças, vais dormir entretido, não é? Pois claro, ganhar forças, ganhar forças para consolidar, para ver se a gente consegue num grande esforço nacional estabilizar esta destabilização filha-da-puta, não é filho? Pois claro! Estás aí a olhar para mim, estás a ver-me dar 33 voltinhas por minuto, pagaste o teu bilhete, pagaste o teu imposto de transação e estás a pensar lá com os teus zodíacos: Este tipo está-me a gozar, este gajo quem é que julga que é? Né filho? Pois não é verdade que tu és um herói desde de nascente? A ti não é qualquer totobola que te enfia o barrete, meu grande safadote! Meu Fernão Mendes Pinto de merda, né filho? Onde está o teu Extremo Oriente, filho? A-ni-ki-bé-bé, a-ni-ki-bó-bó, tu és Sepúlveda, tu és Adamastor, pois claro, tu sozinho consegues enrabar as Nações Unidas com passaporte de coelho, não é filho? Mal eles sabem, pois é, tu sabes o que é gozar a vida! Entretém-te filho, entretém-te! Deixa-te de políticas que a tua política é o trabalho, trabalhinho, porreirinho da Silva, e salve-se quem puder que a vida é curta e os santos não ajudam quem anda para aqui a encher pneus com este paleio de Sanzala em ritmo de pop-chula, não é filho?
A one, a two, a one two three

FMI dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Come on you son of a bitch! Come on baby a ver se me comes! 'Camóne' Luís Vaz, amanda-lhe com os decassílabos que eles já vão saber o que é meterem-se com uma nação de poetas! E zás, enfio-te o Manuel Alegre no Mário Soares, zás, enfio-te o Ary dos Santos no Álvaro de Cunhal,zás, enfio-te a Natalia Correia no Sá Carneiro, zás, enfio-te o Zé Fanha no Acácio Barreiros, zás, enfio-te o Pedro Homem de Melo no Parque Mayer e acabamos todos numa sardinhada ao integralismo Lusitano, a estender o braço, meio Rolão Preto, meio Steve McQueen, ok boss, tudo ok, estamos numa porreira meu, um tripe fenomenal, proibido voltar atrás, viva a liberdade, né filho? Pois, o irreversível, pois claro, o irreversívelzinho, pluralismo a dar com um pau, nada será como dantes, agora todos se chateiam de outra maneira, né filho? Ora que porra, deixa lá correr o marfil, homem, andas numa alta, pá, é assim mesmo, cada um a curtir a sua, podia ser tão porreiro, não é? Preocupações, crises políticas pá? A culpa é dos partidos pá! Esta merda dos partidos é que divide a malta pá, pois pá, é só paleio pá, o pessoal na quer é trabalhar pá! Razão tem o Jaime Neves pá! (Olha deixaste cair as chaves do carro!) Pois pá! (Que é essa orelha de preto que tens no porta-chaves?) É pá, deixa-te disso, não destabilizes pá! Eh, faz favor, mais uma bica e um pastel de nata. Uma porra pá, um autentico desastre o 25 de Abril, esta confusão pá, a malta estava sossegadinha, a bica a 15 tostões, a gasosa a sete e coroa... Tá bem, essa merda da pide pá, Tarrafais e o carágo, mas no fim de contas quem é que não colaborava, ah? Quantos bufos é que não havia nesta merda deste país, ah? Quem é que não se calava, quem é que arriscava coiro e cabelo, assim mesmo, o que se chama arriscar, ah? Meia dúzia de líricos, pá, meia dúzia de líricos que acabavam todos a fugir para o estrangeiro, pá, isto é tudo a mesma carneirada! Oh sr. guarda venha cá, á, venha ver o que isto é, é, o barulho que vai aqui, i, o neto a bater na avó, ó, deu-lhe um pontapé no cu, né filho? Tu vais conversando, conversando, que ao menos agora pode-se falar, ou já não se pode? Ou já começaste a fazer a tua revisãozinha constitucional tamanho familiar, ah? Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, ah?

FMI Dida didadi dadi dadi da didi
FMI ...

Não há português nenhum que não se sinta culpado de qualquer coisa, não é filho? Todos temos culpas no cartório, foi isso que te ensinaram, não é verdade? Esta merda não anda porque a malta, pá, a malta não quer que esta merda ande, tenho dito. A culpa é de todos, a culpa não é de ninguém, não é isto verdade? Quer-se dizer, há culpa de todos em geral e não há culpa de ninguém em particular! Somos todos muita bons no fundo, né? Somos todos uma nação de pecadores e de vendidos, né? Somos todos, ou anti-comunistas ou anti-faxistas, estas coisas até já nem querem dizer nada, ismos para aqui, ismos para acolá, as palavras é só bolinhas de sabão, parole parole parole e o Zé é que se lixa, cá o pintas é sempre o mexilhão, eu quero lá saber deste paleio vou mas é ao futebol, pronto, viva o Porto, viva o Benfica! Lourosa! Lourosa! Marrazes! Marrazes! Fora o arbitro, gatuno! Qual gatuno, qual caralho! Razão tinha o Tonico de Bastos para se entreter, né filho? Entretém-te filho, com as tuas viúvas e as tuas órfãs que o teu delegado sindical vai tratando da saúde aos administradores, entretém-te, que o ministro do trabalho trata da saúde aos delegados sindicais, entretém-te filho, que a oposição parlamentar trata da saúde ao ministro do trabalho, entretém-te, que o Eanes trata da saúde à oposição parlamentar, entretém-te, que o FMI trata da saúde ao Eanes, entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá! Podes estar descansado que o Teng Hsiao-ping está a tratar de ti com o Jimmy Carter, o Brezhnev está a tratar de ti com o João Paulo II, tudo corre bem, a ver quem se vai abotoar com os 25 tostões de riqueza que tu vais produzir amanhã nas tuas oito horas. A ver quem vai ser capaz de convencer de que a culpa é tua e só tua se o teu salário perde valor todos os dias, ou de te convencer de que a culpa é só tua se o teu poder de compra é como o rio de S. Pedro de Moel que se some nas areias em plena praia, ali a 10 metros do mar em maré cheia e nunca consegue desaguar de maneira que se possa dizer: porra, finalmente o rio desaguou! Vão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no natal?! Era o que faltava! É assim mesmo, julgam que te levam de mercedes, ora toma, para safado, safado e meio, né filho? Nem para a frente nem para trás e eles que tratem do resto, os gatunos, que são pagos para isso, né? Claro! Que se lixem as alternativas, para trabalho já me chega. Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acho normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar! Descontrai baby, come on descontrai, afinfa-lhe o Bruce Lee, afinfa-lhe a macrobiótica, o biorritmo, o hoscópio, dois ou três ovniologistas, um gigante da ilha de Páscoa e uma Grace do Mónaco de vez em quando para dar as boas festas às criancinhas! Piramiza filho, piramiza, antes que os chatos fujam todos para o Egipto, que assim é que tu te fazes um homenzinho e até já pagas multa se não fores ao recenseamento. Pois pá, isto é um país de analfabetos, pá! Dá-lhe no Travolta, dá-lhe no disco-sound, dá-lhe no pop-chula, pop-chula pop-chula, iehh iehh, J. Pimenta forever! Quanto menos souberes a quantas andas melhor para ti, não te chega para o bife? Antes no talho do que na farmácia; não te chega para a farmácia? Antes na farmácia do que no tribunal; não te chega para o tribunal? Antes a multa do que a morte; não te chega para o cangalheiro? Antes para a cova do que para não sei quem que há-de vir, cabrões de vindouros, ah? Sempre a merda do futuro, a merda do futuro, e eu ah? Que é que eu ando aqui a fazer? Digam lá, e eu? José Mário Branco, 37 anos, isto é que é uma porra, anda aqui um gajo cheio de boas intenções, a pregar aos peixinhos, a arriscar o pêlo, e depois? É só porrada e mal viver é? O menino é mal criado, o menino é 'pequeno burguês', o menino pertence a uma classe sem futuro histórico... Eu sou parvo ou quê? Quero ser feliz porra, quero ser feliz agora, que se foda o futuro, que se foda o progresso, mais vale só do que mal acompanhado, vá mandem-me lavar as mãos antes de ir para a mesa, filhos da puta de progressistas do caralho da revolução que vos foda a todos! Deixem-me em paz porra, deixem-me em paz e sossego, não me emprenhem mais pelos ouvidos caralho, não há paciência, não há paciência, deixem-me em paz caralho, saiam daqui, deixem-me sozinho, só um minuto, vão vender jornais e governos e greves e sindicatos e policias e generais para o raio que vos parta! Deixem-me sozinho, filhos da puta, deixem só um bocadinho, deixem-me só para sempre, tratem da vossa vida que eu trato da minha, pronto, já chega, sossego porra, silêncio porra, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me só, deixem-me morrer descansado. Eu quero lá saber do Artur Agostinho e do Humberto Delgado, eu quero lá saber do Benfica e do bispo do Porto, eu quero se lixe o 13 de Maio e o 5 de Outubro e o Melo Antunes e a rainha de Inglaterra e o Santiago Carrilho e a Vera Lagoa, deixem-me só porra, rua, larguem-me, desopila o fígado, arreda, T'arrenego Satanás, filhos da puta. Eu quero morrer sozinho ouviram? Eu quero morrer, eu quero que se foda o FMI, eu quero lá saber do FMI, eu quero que o FMI se foda, eu quero lá saber que o FMI me foda a mim, eu vou mas é votar no Pinheiro de Azevedo se eu tornar a ir para o hospital, pronto, bardamerda o FMI, o FMI é só um pretexto vosso seus cabrões, o FMI não existe, o FMI nunca aterrou na Portela coisa nenhuma, o FMI é uma finta vossa para virem para aqui com esse paleio, rua, desandem daqui para fora, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, a culpa é vossa, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe, oh mãe...

Mãe, eu quero ficar sozinho... Mãe, não quero pensar mais... Mãe, eu quero morrer mãe.
Eu quero desnascer, ir-me embora, sem ter que me ir embora. Mãe, por favor, tudo menos a casa em vez de mim, outro maldito que não sou senão este tempo que decorre entre fugir de me encontrar e de me encontrar fugindo, de quê mãe? Diz, são coisas que se me perguntem? Não pode haver razão para tanto sofrimento. E se inventássemos o mar de volta, e se inventássemos partir, para regressar. Partir e aí nessa viajem ressuscitar da morte às arrecuas que me deste. Partida para ganhar, partida de acordar, abrir os olhos, numa ânsia colectiva de tudo fecundar, terra, mar, mãe... Lembrar como o mar nos ensinava a sonhar alto, lembrar nota a nota o canto das sereias, lembrar o depois do adeus, e o frágil e ingénuo cravo da Rua do Arsenal, lembrar cada lágrima, cada abraço, cada morte, cada traição, partir aqui com a ciência toda do passado, partir, aqui, para ficar...

Assim mesmo, como entrevi um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o azul dos operários da Lisnave a desfilar, gritando ódio apenas ao vazio, exército de amor e capacetes, assim mesmo na Praça de Londres o soldado lhes falou: Olá camaradas, somos trabalhadores, eles não conseguiram fazer-nos esquecer, aqui está a minha arma para vos servir. Assim mesmo, por detrás das colinas onde o verde está à espera se levantam antiquíssimos rumores, as festas e os suores, os bombos de Lavacolhos, assim mesmo senti um dia, a chorar de alegria, de esperança precoce e intranquila, o bater inexorável dos corações produtores, os tambores. De quem é o carvalhal? É nosso! Assim te quero cantar, mar antigo a que regresso. Neste cais está arrimado o barco sonho em que voltei. Neste cais eu encontrei a margem do outro lado, Grandola Vila Morena. Diz lá, valeu a pena a travessia? Valeu pois.

Pela vaga de fundo se sumiu o futuro histórico da minha classe, no fundo deste mar, encontrareis tesouros recuperados, de mim que estou a chegar do lado de lá para ir convosco. Tesouros infindáveis que vos trago de longe e que são vossos, o meu canto e a palavra, o meu sonho é a luz que vem do fim do mundo, dos vossos antepassados que ainda não nasceram. A minha arte é estar aqui convosco e ser-vos alimento e companhia na viagem para estar aqui de vez. Sou português, pequeno burguês de origem, filho de professores primários, artista de variedades, compositor popular, aprendiz de feiticeiro, faltam-me dentes. Sou o Zé Mário Branco, 37 anos, do Porto, muito mais vivo que morto, contai com isto de mim para cantar e para o resto.

José Mário Branco - FMI


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Os Viscondes

O blog do Indigente tem o prazer de vos levantar o véu daquilo que será os ultimo grito musical Santarense.
Pois é, acabadinhos de nascer apresento-vos aqui Os Viscondes.
Banda formada no final do último ano, com membros e ex-membros da Banda Filarmónica 2 de Fevereiro de Santar.

Sei, que os mesmos se vão estrear nos palcos, na comemoração de mais um ano da nossa Filarmónica 2 de Fevereiro. Mais adiante informarei aqui a programação prevista para o evento.

Mas para já, deixo-vos aqui uma pequena amostra!



O maior sucesso para Os Viscondes!!!

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Porque nunca é tarde...

O blog Indigente deseja a todos os visitantes do mesmo um próspero ano novo!

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O Indigente

O indigente é agora criado para que todos possam, sem censuras, sem medos e sem tabus, opinar sobre a actualidade Santarense.

Será um espaço de discussão aberto a todos e prometo-vos que nunca ficarei chateado, porque não sou mimado, nem fecharei a porta a comentários de qualquer espécie!

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