Comemorações do 25 de Abril em Nelas
O Indigente publica aqui o alinhamento previsto para a comemoração do 25 de Abril na sede de concelho. Assim sendo aqui fica:
08h30 | Associação Recreativa e Cultural "Os Carvalhenses"
Actividade | Passeio da Liberdade, Cicloturismo
Percurso | Carvalhal Redondo, Santar, Moreira, Pisão, Aguieira e Canas de Senhorim
09h30 | Praça do Município de Nelas
Actividade | Hastear da Bandeira com a Fanfarra dos Bombeiros Voluntários de Nelas
10h00 | Edifício Multiusos de Nelas
Actividade | Sessão Comemorativa da Assembleia Municipal de Nelas, com alocução pelo Sr. Prof. Dr. João Pedro Antas de Barros, sob o tema "Educação e Formação como Motor da Nova Ordem Mundial"
15h00 | Junto ao Estádio Municipal de Nelas
Actividade | Tributo às Nove Freguesias - Benção dos Brasões
15h15 | Ruas da Vila de Nelas
Actividade | Arruada pela Associação Filarmónica de Vilar Seco, Sociedade Musical St. António de Carvalhal Redondo e Sociedade Musical 2 de Fevereiro de Santar
16h30 | Praça do Município de Nelas
Actividade | 13º Encontro de Bandas do Concelho
21h30 | Edifício Multiusos de Nelas
Actividade | O Primo do Convexo - Homenagem ao Zeca Afonso - Espectáculo de Música Portuguesa
23h00 | Sede da Associação do Cimo do Povo
Actividade | III TT Nocturno - Todos no Trilho
Abertura do Secretariado: 18h00 | Início do Passeio: 23h00 | Reforço: 05h00 | Chegada a Nelas / Pista de Obstáculos: 08h00
Organização | A.D.R do Cimo do Povo
Fonte: CM Nelas
5 comentários:
Não falho ao "Primo do Convexo". O dever chama-me... :)
Já somos dois, espero que o espectáculo não me desiluda ou que o multiusos não seja pequeno demais.
Ao ler o panfleto publicitário das comemorações do 25 de Abril no nosso concelho lembrei-me do Augusto Gil:
Uma enorme tristeza,
Uma funda turbação,
Entra em mim, fica em mim presa
Cai neve na natureza
E cai no meu coração:
O 25 de Abril não é um dia qualquer, não é uma data banal, mas uma referência ao passado, uma inspiração para o presente um objectivo para o futuro “A liberdade”.
Como é possível que não lhe sejam associadas referências que glosem este tema – nem que não a sintam (a Liberdade) – que respeitem os que por elas lutaram e mesmo deram a vida, como temos exemplos no nosso cemitério.
Permitam que transcreva alguns extractos da minha intervenção nesse dia 25 de Abril do ano passado na Assembleia Municipal.
“Relembro, comovido, o meu primo que a 3 dias de completar 24 anos morreu em terras da Guiné.
Relembro a angústia de minha mãe ao assistir, durante mais de dois anos, ao passar lento dos dias que mantinham o filho, precisamente, no mesmo local onde haviam tirado a vida ao sobrinho.
Relembro as imensas dificuldades que, na calma de uma sombra de Verão, me contavam os emigrantes em como deixaram tudo o que amavam para, com pouco mais do que a “mala de cartão” se sujeitaram a tomar “de assalto” as fronteiras com a Europa Civilizada.
Relembro o cuidado que tínhamos que ter para que qualquer palavra, mesmo a mais simples, não fosse considerada como subversiva – cuidado com o uso de palavras como “Oliveira” – não seja ela ouvida por qualquer “amigo nosso” informador da PIDE / DGS.
Até mesmo aqueles que não o conheceram por serem mais novos do que ele, o 25 de Abril é a grande referência da liberdade e da libertação.
Por isso é que o agradecimento pelo 25 de Abril não pode ser uma mera submissão a uma regra ou a uma série de procedimentos: o agradecimento, a alegria, devem nascer de dentro de cada um, devem ser sentimentos profundos e consequentes.
É um agradecimento que tem que se estender ao fim da censura e do obscurantismo, da polícia política, das prisões arbitrárias e o desmantelamento do último dos impérios coloniais, acabando com o espectro da guerra que ameaçava as cabeças da juventude e de todos os familiares.
Não pode, por isso, este dia ser mera rotina, mas também não pode ser formalista. Deve, isso sim, ser de reconhecimento espontâneo, um grito de alma agradecida porque fez brotar cravos de espingardas.
O 25 de Abril tendo hoje uma história simples – liberdade – não tem, no entanto, uma história fácil. Não é uma história de conformismos, mas de interrogações; é uma história que derruba barreiras, que não monta falácias, mas promove a liberdade.
Esta liberdade, por esta liberdade, temos
obrigação de nos esforçar, temos obrigação de reflectir em todos os acontecimentos: não só os que “a” ameaçam, mas também todos os que graças a “ela” são possíveis.
Porque foi o 25 de Abril que restituiu a todos os portugueses, mesmo àqueles que são contra ele, o direito de viver sem pânico, de falar sem prisão e, também, a liberdade de discordar sem receio.
O 25 de Abril fez renascer a esperança ao retomar a adormecida definição de liberdade.
[…]
Relembrando esse Abril “O sonho comanda a vida, como bola colorida, entre as mãos de uma criança”.
O que o 25 de Abril nos ensinou é que há uma outra dimensão das coisas. E que a alma de uma população pode ser maior que o seu tamanho.
Porque é esse o tamanho que precisamos de voltar a ter: o tamanho, como dizia Natália Correia, da nossa “alma transportuguesa”, como adapto eu “o tamanho da nossa alma Beirã”.
[…]
Viva o Concelho de Nelas em liberdade!
Nelas, 25 de Abril de 2008.”
Em Canas também vai haver comemorações. Os Bombeiros fazem-no todos os anos.
INTERVENÇAO DE JORGE ESTEVES NA ASSEMBLEIA MUNICIPAL DE 24 DE ABRIL DE 2009:
24 de ABRIL DE 1974
Há 35 anos, o Capitão Salgueiro Maia preparava-se para arrancar para Lisboa com os militares que aderiram à revolução e, já na parada, fez este discurso:
… HÁ VÁRIOS ESTADOS: TOTALITÁRIO, DEMOCRÁTICO…. E HÁ
“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU”
A frase que correu mundo, continua actual.
“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU”
Nesse dia teve inicio um processo que levou ao encerramento de uma ditadura e à activação de uma democracia.
Mas, hoje, passados 35 anos, alguns tiques do 24 de Abril, ainda não morreram.
Tiques de uma cultura politica autocrática persistem diariamente.
Quem governa tende a governar com arrogância e a oposição continua a crer que a sua função democrática é apenas de “opor-se”.
Já na Grécia Antiga se chamava a isto primitivismo político, ignorância sobre a democracia e desrespeito pelos cidadãos.
Em alguns casos a democracia raia a ditadura mais cínica que é aquela que deixa que todos falem sem que se ligue minimamente aquilo que dizem.u9
Em alguns casos que a imprensa nos relata diariamente, nem cínica consegue ser porque, o verniz estala e ficam incomodados porque alguém tem uma opinião diferente.
Kant dizia que o ser humano nasce mau. A parte biológica é coberta pela cultura adquirida permitindo-lhe criar a diferenciação com os outros animais mas, alguns, volta e meia revelam-se tal e qual como nasceram.
Teremos de reconhecer que Kant tinha razão.
“O ESTADO A QUE ISTO CHEGOU”
A verdade é que, ao fim de 35 anos, temos um défice democrático, um clientelismo que nos empobrece e nos asfixia e uma erosão de valores própria do subdesenvolvimento cultural.
A mediocridade e o despudor são premiados desde que se tenha uma fidelidade canina.
Actualmente, em Portugal, o compadrio talvez seja maior que no tempo do Marcelismo.
Quem tem ideias fora das fileiras dos obedientes é visto pelo poder não como um potencial de inovação mas como uma ameaça.
O 25 de Abril não pretendeu construir um país com esta profusão de falta de vergonha e de oportunismo.
Enquanto eu souber que há uma elevada percentagem de universitários que chumbam porque não têm dinheiro para pagar as propinas
Que há estudantes que abandonaram os estudos para ir trabalhar e aumentar o rendimento familiar
Enquanto eu não souber se alguém fez um levantamento dessas (e de outras) necessidades gritantes não contem comigo para comemorar este 25 de Abril.
Não foi para isto que eu vim para a rua, nem em 74, nem em Novembro de 75
Quando todos temos consciência dos problemas sociais que hoje, mais do que nunca, devem ter prioridade ao económico e financeiro, fazer passeios onde não há casas, prometer TGVS ou inaugurar azulejos mexe com a minha capacidade de cidadão.
É por isso que, provavelmente para satisfação de alguns, amanhã não estarei presente.
É necessário um 26 de Abril construído na vivência democrática,
pelos cidadãos que têm de decidir, crescer e viver de pé
Jorge Gonzalez Esteves
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