Espaço de discussão em torno de Santar
Decorreu na passada 5ª Feira a Missa da Ceia do Senhor, celebrações essas que ficaram marcadas pela chuva, que impediu que tão grandiosa procissão como a dos fogaréus se realizasse.
O Indigente publica aqui as fotos possíveis, de mais uma jornada da tão conceituada Semana Santa Santarense.
3 comentários:
Foi com regalo que por mais um ano consecutivo se presentearam as celebrações da consagrada Semana Santa… e com deleite se observou pequenas inovações (ecrã exterior, cartazes formosos, panos roxos), parece-me haver um laboro honroso. Outras mãos pegaram nas varas, outros objectivos se sentiram, ascendentemente caminhamos, o que me faz faustoso!
Devagar se apagam sombras imbuídas em bons desígnios, com a voz e altiva simpatia aos braçados, já nem pelas cantorias se açulam… a cobiça foi tamanha que nem nos honraram com as suas humildes presenças. Dias escuros, mas de certo mais brandos se sentiram. Agraciei as ausências!!
Procissão do Enterro do Senhor
Sexta-feira Santa
ENQUADRAMENTO
A procissão do Enterro do Senhor, ou se quisermos, do Senhor Morto, coroa, de um modo particular a Semana Santa e de uma forma mais abrangente toda a Quaresma. Abre as portas a que todos nos coloquemos em Vigília (Sábado Santo) para renascermos no Domingo da Ressurreição.
Esta é a principal Fé dos Cristãos: A RESSURREIÇÃO.
Esta procissão de superior responsabilidade da Santa Casa da Misericórdia, tem imensas particularidades que a tornam única.
Desde logo a hora a que se deve realizar: ao cair da noite: “Era então a hora Sexta e toda a terra ficou coberta de trevas até à hora nona” (Mt 27,45), depois de longa agonia “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste” (Mc 15,34 e Mt 27,46). Lê-se também, na sagrada escritura, que só algumas horas depois foi o corpo libertado para que sua mãe o voltasse a receber e levar até ao sepulcro de José de Arimateia (Jo 19,38).
Depois porque leva pelas ruas de Santar um conjunto riquíssimo de imagens símbolos que neste dia têm a sua expressão máxima, como sejam a imagem de Nossa Senhora das Dores (ou da Soledade), o Santo Sudário, o esquiço com a imagem de Jesus morto, associados a outros elementos como sejam a ausência do toque dos sinos, a ausência do Aleluia – a dor profunda.
É esse sinal de dor que nos transmitem os membros da Irmandade, de cabeça tapada, vestidos de luto carregado, transportando os estandartes deitados. É a única procissão em que as velas que os irmãos suportam são usadas do lado de fora das filas em que cada um está inserido.
PORQUÊ DESTA PROCISSÃO?
São actos de culto público, que a Igreja Católica realiza, lembrando a peregrinação do povo de Deus, e que podem ser de louvor, acção de graças ou mesmo de penitência. A procissão de Sexta Feira Santa é sobretudo penitencial, havendo, no entanto, quem procure também apreciar, nestes cortejos, o seu valor estético, histórico e cultural, o que nos parece positivo.
A tradição dita, desde sempre, a forma organizativa: os percursos, o alinhamento das bandeiras e demais estandartes e conteúdos.
No cortejo litúrgico desfilam os Irmãos da Santa Casa da Misericórdia, com opa negra e tocha acesa na mão, ladeando os passeios das ruas. No meio destas alas vão as bandeiras da Irmandade, alumiadas por lanternas.
No meio da procissão, salpicando objectivamente cada cena expressa nas bandeiras deitadas em sinal de luto, vão crianças, jovens e adultos, representando as cenas dos anos da vida pública de Jesus, sobretudo do período da sua Paixão e morte.
O Cortejo é encerrado pelo Pálio, sobre o qual vai o corpo de Jesus, dentro do esquiço, representando o momento em que o Seu corpo é transportado para o nunca usado jazigo de José de Arimateia. Chora-o, principalmente, Sua Mãe, por isso vale a pena repararmos – pausadamente – sobre a imagem de Nossa Senhora, vestida de dor e sofrimento, com uma expressão facial, sinceramente, do mais bonito que já vi.
No couce da Procissão vai o Provedor da Santa Casa da Misericórdia e o Sacerdote celebrante. Fecha o cortejo a nossa banda de música.
Há muitas pessoas que, por devoção, incorporam a cauda do cortejo, acompanhando todo o percurso. Nas janelas e sacadas assistem os moradores e seus amigos, colocando, sobretudo, velas acesas.
O ritmo lento, cadenciado, marcado pelos “andadores”, ao som dolente da banda filarmónica, enquadra elegantemente o silêncio das centenas de devotos que assistem à passagem pelas ruas da vila.
O sermão da Paixão, que foi em tempos o momento mais esperado, para o qual se escolhiam sempre pregadores de nomeada, reduziu a sua intensidade nestes últimos tempos, compreensivamente, dada a necessidade de estes actos – e a religião em si – deverem ser vistos com seriedade, mas acima de tudo com sobriedade que permita a partida para as casas de cada um de nós em intensa reflexão interior.
Um grande abraço agradecido a todos os que continuam a trabalhar, cada vez mais afincadamente e com maior determinação, para fazer desta cerimónia uma referência de cultura e crença cristã.
O Senhor Armando já viu o dvd … se não viu devia ver, fazia-lhe bem para sentir as suas palavras no ecrã!
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