sábado, 13 de novembro de 2010

O Vinho Dão

(...) Há muitos anos, em tempos remotos, fez Baco uma visita ao seu bom amigo Endovélico, o deus dos deuses da Lusitânia. Atravessou serras e subiu penosamente ladeiras até chegar a terras banhadas pelo rio Dão. Perto daquele local, à entrada de uma tosca cabana de pedra e troncos, havia um casal de lusitanos e um filhito. Baco ao vê-lo, correu para eles gritando:
- Pelos deuses, dai-me de beber!
O lusitano entra na cabana e regressou com uma escudela de barro cozida ao sol, cheia de água.
- Água? Acaso não tendes vinho?
O anfitrião arregalou muito os olhos, cofiou a barba entonça e volveu espantado:
- Não. Nós não sabemos o que é. Quereis vós comer?
E sem esperar resposta voltou com uma perna de cabrito montanhês. À despedida, Baco, comovido pela franca hospitalidade do luso, disse-lhe:
- Ainda um dia hás-de saber o que é o vinho.
Alguns anos mais tarde uma centúria romana, marchando e cadência, parava à porta da singela habitação do lusitano.
Os legionários deixaram a forma e cada um deles abriu uma vala e na vala cada um deles pôs uma videira. Depois, tomaram os lugares e partiram como haviam vindo. Num dos bacelos lia-se esta tabuleta:
“Baco oferece reconhecido”.
Aquelas cepas deram a seu tempo saborosos bagos cujo suco o lusitano espremeu para beber no Inverno numa comunhão de força e rejuvenescimento, e assim, daquelas belas uvas da campanha, que eram uma delícia do bom Baco, havia nascido o generoso e salutar Vinho do
Dão.

6 comentários:

Anónimo,  13 de novembro de 2010 às 12:46  

Halléluia,halléluia,qualquer coisa digno de se lêr, bonito.

Anónimo,  13 de novembro de 2010 às 17:04  

Baco deus do vinho, o festeiro, o AMIGO e apaziguador. Na mitologia romana é considerado o criador do vinho.
Este exemplo vem bem a calhar. Por aqui Baco deixou raízes com o cultivo esmerado, suado e mal remunerado dos frutos desta região que tem o nome de Região Demarcada do Dão há 108 anos. Com o passar dos tempos caiu no esquecimento a outra parte da história da mitologia romana, que diz respeito à importância de se cultivar a amizade no convívio com o semelhante. O vinicultor precisa entender que as suas dificuldades são as mesmas que as do seu vizinho. Devem-se unir para sobreviver e, em seqüência, promover a Região. À desunião pode-se atribuir o infortúnio dos agricultores e a desvalorização do tão precioso néctar Beirão.
Em Portugal e no estrangeiro, o espaço dado aos vinhos do Dão, nos grandes centros comerciais, é pequeno, comparado com os novos rótulos de vinhos Alentejanos e do Douro, já para não falar nas novas marcas estrangeiras vindas de países de todos os Continentes, sem tradição no mercado, há vinte anos atrás. Essas abocanharam mais de 25% da produção Européia.
O navegante apreciador de vinhos, dificilmente encontra os de origem Santarense. Em loja especializada, o comum é só encontrar os da Casa de Santar.
O mercado exige qualidade e aparência. Boas e poucas misturas de castas, um rótulo chamativo e alguma publicidade. Isso demanda um pouco de investimento que, no meu entender, carece de maior ajuda e empenho por parte das Autarquias, no que diz respeito à divulgação e incentivo à sua exportação, principalmente para países com grande colônia de portugueses e seus descendentes.
A produção e sua comercialização aquecida vão gerar mais emprego e receita para a Autarquia, daí se conclui a sua participação empreendedora neste momento de crise, isto se chama competência administrativa. Saber priorizar os parcos recursos é fundamental. Desta "Demagogia organizada” da III República pouco ou nada se espera. Por isso, devemos nos unir para pressionar e exigir da Autarquia medidas para salvação da economia vinícola local.
Fico pasmo com a passividade do povo perante este desgoverno mentiroso e inapto para enfrentar a terrível crise em que nos jogou. Há um ano atrás enganei-me ao afirmar que o pior da crise viria este ano. Hoje, estou convicto que na próxima década as dificuldades serão bem maiores. Quanto tempo mais devemos esperar para sair às ruas e protestar?
Somos a solução do problema, devemos agir rápido.
Cumprimentos do anónimo navegante Santarense aqui injustamente censurado

Isabel Tavares,  14 de novembro de 2010 às 10:44  

Portugal é uma terra de vinhas e um país de vinhos
De vinhos diferentes, diversos nas suas características, ricos de aromas e plenos de sabores.
A nossa história faz-se também de vinho.
Mudámos a paisagem para produzir vinho, As encostas escarpadas foram aproveitadas e o valor económico foi dado às nossas zonas rochosas enriquecendo-as e fazendo delas brotar castas magnificas que se têm traduzido na qualidade volumosa dos nossos vinhos.
Dizer que todas as regiões vitivinícolas de Portugal são quase todas demarcadas o que pressupõe, logo à partida, boa qualidade. No entanto é na zona Centro e Norte que se encontra o paradigma da qualidade por mérito das nossas castas e zonas rochosas que, como é sabido abundam desde a mealhada até ao alto Douro e Minho.
Baco está cada vez mais vaidoso com os nossos vinhos verdadeiros nectares da mesa dos Deus, na qual os vinhos do Dão ocupam por excelência o principal lugar.
Hoje o país tem um sector vitivinícola de fazer inveja e ciúmes às grandes marcas e também às grandes produções que proliferam por toda a europa, por este motivo, Baco não deve ter rival.

Haverá razão para Baco ter Ciúmes? Perante o poema que aqui se apresenta, Baco não tem motivos para temer a concorrência:

Vem meu amor
Saiamos para o campo,
pernoitemos nas aldeias,
Madruguemos para ir aos vinhedos,
Veremos se a vinha já lança rebentos,
Se se entreabrem as flores.
Aí te darei os meus amores.

Anónimo,  15 de novembro de 2010 às 12:13  

“Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça, é essa menina que vem”... e que por aqui passa, dando o ar da sua graça, enaltecendo Santar.
Parabéns Senhora I. T. Isto sim, Santar merece!
Anónimo injustamente AQUI censurado

Isabel Tavares,  16 de novembro de 2010 às 09:02  

Se eu pudesse dar mais a Santar, seguramente o faria, mas dentro daquilo que a minha modéstia e modesta cultura mo permitem, Santar, depois da minha Família está e estará sempre no meu caminho, o caminho que teimo em percorrer muitas vezes tropeçando e mais uma vez, teimosamente me erguendo, para voltar a cantar Santar e os Santarenses.
Obrigado Anónimo injustamente aqui AQUI censurado, as suas palavras pertencem a uma linda canção Brasileira, se a memória não me falha, pertence a Vinicius de Moraes, letra e música, e tem como título Garota de Ipanema, e eu sinto-me mimada (vaidade de velha) com a analogia que é feita ao meu comentário.
Cumprimentos

Anónimo,  17 de novembro de 2010 às 10:28  

Sei o que representa um elogio, uma palavra amiga.
Gosto de ler seus comentários.
Gosto de quem gosta da sua terra e usa este espaço para expressar o seu amor por Santar.
Posso discordar de muita coisa, mas reconheço quem tem carinho por Santar. Quem assim procede me quer bem, se orgulha do povo de que faz parte.
Superadas as dificuldades AQUI encontradas... continue nos brindando, em prosa e verso, as belezas de Santar.
Sim, a letra é de Vinicius de Morais e Tom Jobim.
Cumprimentos
P s – Nem todo idoso é velho e há velho que nem chegou a ser idoso.

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