Recentemente, em conversa de amigos, discutindo a nossa região, veio á conversa a forma como dizemos de onde somos naturais, e o porquê de as gentes da Beira, não serem como as outras regiões.
Quando saímos para outras regiões, seja por motivos de trabalho, estudo, etc., uns dizem que são do Alentejo, do Norte, do Algarve, só depois pormenorizam o local, partem do todo para a parte, e nós Beirões, dizemos que somos desta e daquela cidade, vila, aldeia, partimos da parte para o todo.
Este tema levou a muitas considerações no nosso grupo de amigos, dai me ter lembrado de escrever este texto, temos e devemos orgulhar-nos de sermos Beirões, e dizer: - Sou da Beira, e então depois especificar.
Para mim, ser Beirão, é ter nascido no coração do Planalto Beirão, esse planalto fértil e deslumbrante, situado entre as Serras da Estrela e do Caramulo, com os rios Dão e Mondego a espraiar-se pelo meio.
É nas Beiras, que se situam as 10 aldeias históricas de Portugal, são elas: Almeida, Castelo Mendo, Castelo Novo, Castelo Rodrigo, Idanha a Velha, Linhares, Marialva, Monsanto, Piódão e Sortelha.
Ser Beirão é ter nascido entre o granito e acordar todos os dias vendo o nascer e o pôr-do-sol por entre as serras, os seus deslumbrantes vinhedos, á vista o alto da Estrela normalmente coberto pelo manto branco da neve, desde Novembro até Maio.
O escritor Oliveira Martins, 1845-1894, dizia assim acerca da Beira:
“A Serra da Estrela é a mais elevada das cordilheiras portuguesas; é o prolongamento da espinha dorsal da Península; é a divisória das duas metades de Portugal, tão diversas de fisionomia e temperamento; é finalmente como que o coração do país - e acaso nas suas quebradas e declives pelos seus vales e encostas, existe ainda o genuíno representante do Lusitano antigo. Se há um tipo propriamente português; se através dos acasos da história permaneceu puro algum exemplar de uma raça ante - histórica onde possamos filiar-nos, é aí que o havemos de procurar e não entre os Galegos ao norte do Douro, nem entre os Turdetanos da costa do sul, nem entre as populações do litoral cruzadas com o sangue de muitas raças e com o sentimentos e costumes das mais variadas nações.
O pastor quase bárbaro dessas cumeadas da serra, a topetar com as nuvens, (1800- 2000 metros de altitude), abordoado ao seu cajado, vestido de peles, seguindo o rebanho de ovelhas louras, é talvez o descendente dos companheiros de Viriato”
Vamos pois dizer com orgulho: - Sou das Beiras, sou Beirão!
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